quinta-feira, 4 de abril de 2013

Câmara da Capital discute denúncias de “gatos fictícios" na cidade

A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) realizou, conjuntamente com a Assembleia Legislativa da Paraíba (AL-PB), na manhã desta quinta-feira (4), uma sessão especial proposta pela vereadora Raíssa Lacerda (PSD) e pelo presidente da Casa, vereador Durval Ferreira (PP), além do deputado estadual Trocolli Júnior (PMDB), para discutir as centenas de denúncias de consumidores autuados por supostos desvios de energia, os “gatos”, da Empresa distribuidora de energia elétrica da Paraíba, a Energisa. O evento aconteceu com as galerias da Casa lotadas pela população da Capital.

A parlamentar justificou a plenária relembrando que, ainda no mês de março, o funcionário da Energisa Sidney Sandrinni a procurou no seu gabinete para formalizar uma denúncia de que a empresa vem “produzindo” desvios de energia para extorquir multas de elevados valores dos consumidores pessoenses. Ela ainda alertou que diversos consumidores também denunciaram que a empresa está trocando os medidores analógicos por medidores digitais, o que vem causando aumento nas contas de energia.

Raíssa apresentou um vídeo no qual o funcionário Sidney exemplifica como se dá a formalização das multas: a senhora Maria fala que funcionários da Energisa chegaram à sua residência e, ao examinar as instalações elétricas, informaram sobre a necessidade de trocar o medidor de energia. Em seguida, solicitaram da mesma a sua assinatura em um documento que confirma esta troca. De acordo com a consumidora, algum tempo depois ela verificou que estava pagando uma multa, parcelada em 24 prestações de R$ 90,90, devido a um desvio de energia que, segundo a senhora, não havia. O mesmo aconteceu com o senhor João, que afirmou categoricamente que os funcionários lhe informaram que a assinatura seria só para a troca do “relógio”, mas na verdade ele reconheceu uma multa por desvio de energia. Ao final do vídeo aparecem depoimentos de consumidores de diversos bairros da cidade denunciando que sofreram as mesmas ações do “fio preto”.

Durante a sessão, ainda foi apresentado um áudio com diálogo entre um gerente da empresa e seus subordinados no qual se evidencia a formalização de estimativas de metas para conseguir de três a cinco "vítimas de gatos" diariamente. A vereadora também questionou a razão dos valores pagos nas tarifas de energia elétrica na Paraíba serem 40% mais caras do que em São Paulo.

Compuseram a mesa da sessão, além dos propositores, o vereador Benilton Lucena (PT), que presidiu a solenidade; o deputado estadual Gervásio Maia (PMDB); os representantes da empresa, Cleyson Jacomini, gerente do Departamento de Faturamento, e o diretor comercial André Theobald; os promotores do consumidor, Glauberto Bezerra e Priscila Maroja; o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Conselho Nacional dos Direitos do Consumidor (CNC), Odon Bezerra; o presidente da Agência de Regulação do Estado da Paraíba (ARPB), Zezito Maia; o vereador de Campina Grande, Inácio Falcão; e o vereador de São Vicente de Seridó, Océlio Queiroz.

Ainda prestigiaram a plenária os seguintes vereadores: Bosquinho (DEM), Bruno Farias e Djanilson, ambos do PPS, Chico do Sindicato (PP), Felipe Leitão e Helton Renê; os dois do PP, João Almeida (PMDB), Lucas de Brito (DEM), Marcos Antônio (PPS), Marcos Vinícius (PSDB), Marmuthe (PT do B), Professor Gabriel (PDT) e Zezinho Botafogo (PSB). Diversos eletricitários participaram da sessão, assim como os representantes do sindicato da categoria.

O deputado Gervásio Maia lembrou que o problema se estende por toda a Paraíba e evidenciou que o fato é um desrespeito com a população do Estado. Ele relatou que sofreu o mesmo golpe, quando entraram em sua residência para realizarem inspeção no medidor. No caso do deputado, o final foi diferente, pois não encontraram problemas. Já o deputado Trocolli Júnior, também peemedebista, frisou que dificilmente um funcionário estaria diante de seus diretores fazendo denúncias que não fossem verdadeiras.

 

Defesa da Energisa

André Theobald fez questão de dizer que tinha convicção de que todas as ações da empresa são realizadas de forma correta, dentro da legislação vigente. Ele apresentou diversos índices positivos da Energisa, como os 78,8% de satisfação constatado pela Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee); 78% de satisfação dos seus colaboradores; e o Prêmio Nacional de Qualidade recebido no ano passado.

Ainda de acordo com André, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) reconheceu a Energisa como a empresa que mais evolui nos indicadores de qualidade em relação a falta de energia em todo o país. Ele ainda afirmou que em todas as auditorias realizadas na empresa sobre a questão do “fio preto”, nada de errado foi constatado. O gerente ainda enfatizou que toda a inspeção realizada nos medidores passa por um processo minucioso, sendo realizado o auto de ocorrência apenas em cerca de 13% do montante total. Sobre as mudanças dos medidores analógicos para dos digitais, o gerente alegou a necessidade de inovações tecnológicas em todas as empresas, e garantiu que os aferimentos são realizados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), e que os equipamentos são menos vulneráveis às intervenções humanas.

A respeito das tarifas praticas pela empresa, o responsável pelo setor de tarifas da empresa, Cleyson Jacomini, afirmou que os valores praticados pela Energisa são liberados pela ANEEL e estão sujeitos a legislação federal. Ele acrescentou que, da mesma forma que a Paraíba paga 40% a mais que São Paulo, os estados do Piauí, Maranhão e Acre pagam mais caro que a Paraíba. “O poder concedente define os valores levando em conta os custos, os impostos e o poder de concentração de energia”, falou.

 

Mais denúncias

O promotor Glauberto Bezerra afirmou que ninguém pode entrar na residência de nenhum cidadão sem seu consentimento, e que as inspeções devem ser realizadas de forma clara, com o respaldo do INMETRO. Os vereadores de Campina Grande relataram que os mesmos problemas estão acontecendo na cidade deles, e afirmaram que estão na mesma luta.

O Sidney Sandrinni, primeiro funcionário da empresa a denunciar a prática do “fio preto”, ratificou todas as suas denúncias e anunciou mais uma: “Estamos vivendo um verdadeiro assédio moral dentro da nossa empresa. O departamento de fiscalização tem causado grandes constrangimentos à nossa população. Quando iniciei essas denúncias fui convidado por gerentes da nossa empresa para uma conversa em sala reservada na qual fui alertado que a minha filosofia de Robin Hood poderia ser um tiro no pé”.

Durante a sessão, a vereadora Raíssa anunciou que mais três funcionários haviam solicitado proteção para poder realizar denúncias também. Ela aproveitou a ocasião para pedir esclarecimentos ao gerente do setor de medições, Felipe Vianelli, sobre a conversa do Sidney em sala reservada. Vianelli afirmou que a conversa aconteceu sobre assuntos genéricos das tarefas diárias do Sidney, que vinha apresentando problemas, sem se aprofundar no tema. Sobre a afirmação da filosofia Robin Hood, o gerente não se pronunciou, e informou que só o faria se fosse apresentada alguma gravação da conversa na íntegra.

O vereador Bruno Farias (PPS) lembrou que Raíssa vem, desde 2009, nessa luta contra os desmandos da Energisa no Estado da Paraíba. Ele cobrou uma ação efetiva e contundente do Ministério Público para "desencapar esse fio preto, para que ao fim, tudo não tenha passado de um pequeno curto circuito". "Mas, se foi um grande apagão, todos os órgãos devem se reunir para que o miado do gato seja engolido pelo leão. O leão é o povo da Paraíba”, finalizou Bruno.

Ao final da sessão, Raíssa Lacerda garantiu que vai realizar outras sessões na Casa para discutir o mesmo tema, e vai acompanhar o desenrolar das investigações e demandas judiciais realizadas pelo MP.
CMJP

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