É impossível ficar indiferente aos problemas de violência que tem nos cercado nos últimos tempos. Não é um problema apenas regional, a sociedade como um todo tem se defrontado com o sofrimento das famílias que vivem cercadas da intolerável e indisfarçável guerra urbana que diminuem nossos espaços, nos tira o direito de ir e vir, nos premia com o desplante de atuações marginais, e em decorrência, sermos acometidos por doenças neuróticas, nos privando da nossa rotina diária, nos transformando numa verdadeira massa de pacientes estressados e trancados em nossas casas com receio até mesmo de abrirmos nossas portas aos parentes mais próximos, quando não os sobressaltos que temos ao atendermos a um inofensivo telefone. Portanto, nossas casas já não refletem a segurança desejada e que tão cara pagamos, embutida nos impostos que nos cobram em nome da dignidade humana.
Não bastasse o terror externo, muitas famílias se veem envolvidas no
pânico das drogas que viciam, matam e dissolvem lares por conta de um vício de
difícil controle, as autoridades não reagem aos traficantes usando o recurso da
força da lei na tentativa de coibir esse mal que assola a sociedade que se vê
refém de um mal que nos afeta direta ou indiretamente pela extensão do
transtorno que ele nos traz. Enquanto isso a polícia mal preparada e equipada
se sente impotente diante dos fatos que lhe tiram a autoridade de uma ação mais
contundente, sob pena de se transformar no criminoso potencial.
A violência dentro de casa não para por aí, apesar da Lei Maria da Penha,
Lei número 11.340, em vigor desde 22 de setembro de 2006, criada como um
dispositivo legal para aumentar o rigor nas punições contra agressões sofridas
pelas mulheres, ocorridas no âmbito doméstico e familiar. Aquilo que parecia
ser uma solução para os problemas de desavenças e crimes, normalmente cometidos
por homens drogados, enciumados e bêbados, não passou de uma esperança morta,
os crimes continuam, muito embora numa densidade menor. Filhos menores também
são vítimas de lares desestruturados, formando futuros desajustados dentro de
uma sociedade carente de paz e harmonia. Situações análogas que traduzem muito
bem o momento perverso que vivemos, enquanto alguns com muito sacrifício
constroem vidas saudáveis, outros destroem os elos sociais de afetos e
consistência que ligam o presente ao futuro.
O caso do mensalão 470, além de trazer a tona à violência que existe no
meio político, contra os bons costumes, através de políticos corruptos, quando usam
cargos públicos para se servirem em vez de servirem. Trouxe a discussão de uma
situação antiga e necessária de solução urgente, que é o sistema carcerário. Um
modelo falido, sem nenhuma condição de reeducação aos presidiários que se
transformam, quando lá ingressam, em verdadeiros marginais com novas táticas e
práticas que aprendem, por conta de uma superlotação desumana e sem nenhuma
utilidade ou orientação aos homens que depois de cumprirem suas penas retornam
à sociedade, mais perigos e cruéis como nunca.
Nossas escolas não representam mais aquele ambiente de cultura e
desenvolvimento humano, as crianças e adolescentes, uma grande parcela, em
estabelecimentos de ensinos identificados, se transformou em animais sem noção
do verdadeiro ambiente educacional, levando perigo aos colegas que procuram uma
instrução transformadora para sua formação com conteúdo moral e cívica, e os
mestres que correm até mesmo risco para sua integridade física, tamanha é a
selvageria que compõe o caráter desses seres nocivos ao seio escolar.
As ruas e as praças já não são o palco onde o povo ia reivindicar seus
direitos, respeitado e respeitando os limites da democracia, se fazendo ouvir
pela eloquência dos discursos inflamados dos trabalhadores e estudantes. O que
temos é um bando de vândalos infiltrados no meio de grupos pacíficos,
deturpando toda e qualquer situação de harmonia, levando perigo, com risco de
vidas, depredando o patrimônio público e privado, como se essas atitudes
resolvessem o problema coletivo. É bom salientar que o empresariado luta com
dignidade e sacrifícios para formar seu patrimônio, e de um momento para outro
ver todo seu esforço ser transformar em cinzas e fumaças, sem que nenhuma
atitude seja tomada, por parte das autoridades, para que essas situações não
sejam repetidas, pelo contrário, as cenas se repetem, como se fossem de um
filme de terror encenado nas vias públicas, cujos protagonistas enfrentam as
circunstancias sem nenhum temor de repreensão, pois são cenas livres, sem direção
ou enredo, apenas o final a que se pretende é realizado, uma tragédia anunciada
e nunca evitada.
Agora o escárnio chegou aos nossos estádios de futebol, rebatizados de
arenas, onde as conquistas eram festejadas e comemoradas por torcedores
conscientes das suas atitudes. O Brasil é o país do futebol, estaremos sediando
a Copa do Mundo de 2014, era hora de mostrarmos ao mundo que já não somos um
país do futuro, mas, do presente, apesar da nossa fragilidade educacional,
setor que pouco evoluímos, mas estamos interligados a cultura mundial,
representamos a 7° economia, somos emergentes buscando o título de grande
potência pelos méritos que temos em muitos setores, tudo que estamos passando
no futebol é vergonhoso.
Vendo os vídeos dos confrontos das equipes esportivas, do campeonato nacional
que se encerrou, e especificamente o último jogo entre Vasco da Gama, do Rio de
Janeiro, e Clube Atlético do Paraná, nos causa uma grande decepção pelo que
ainda somos, um povo sem educação esportiva. Uma verdadeira guerra entre
torcidas, com pessoas machucadas, retratando um país necessitado de uma
reengenharia no plano educacional, e o resultado foi a simples prisão de três
torcedores e multa para os times envolvidos. Muito pouco para tentar moralizar
uma camada da sociedade que não se cansa de enlutar um povo ordeiro como o
nosso, com suas atitudes condenáveis e desafiadoras para as autoridades que
querem mostrar ao mundo um novo país, que somos capazes de sediar um torneio
esportivo sem macularmos nossa trajetória de grande e único pentacampeão
mundial, respeitado mundialmente. Para que não sejamos expostos como ridículos
aos olhos do mundo, não precisamos de delegacias em estádios, nem mudarmos as
leis, basta que sejam cumpridas as que já existem, para tanto é preciso que
haja competência, é o que está faltando as nossas autoridades.
Nesse momento não podemos esquecer a fantástica frase do
polímata brasileiro, Ruy Barbosa de
Oliveira (1849/1923): “Toda a
capacidade dos nossos estadistas se esvai na intriga, na astúcia, na cabala, na
vingança, na inveja, na condescendência com o abuso, na salvação das
aparências, no desleixo do futuro”.
Escrito por: Genival Torres Dantas
Escritor e Poeta
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