quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Estudante e professora da Paaraíba estão entre os vencedores nacionais da Olimíada de Lingua Portuguesa " Escrevendo o Futuro"




A estudante Dayane de Sousa Pereira Silva e a professora Valkíria Muniz Ferreira, de Picuí (PB), estão entre os 20 vencedores nacionais da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, cuja final foi realizada hoje em Brasília.

O texto da aluna, que foi vencedora na categoria Memórias Literárias, concorreu com outros 13.849 inscritos na Olimpíada. Ao todo, mais de três milhões de estudantes participaram desta edição.

A Olimpíada é desenvolvida pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Fundação Itaú Social, sob a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). O programa, que este ano alcançou 5.014 municípios brasileiros, busca aprimorar a prática dos professores em sala de aula para o ensino de leitura e escrita em escolas públicas.

Participaram alunos de 5º, 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Os alunos de 5º e 6º anos no gênero Poema, os de 7º e 8º anos desenvolvem textos do gênero Memórias Literárias, 9º ano do ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio trabalham o gênero Crônica. Os alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio produzem Artigos de Opinião. Em 2014, foram realizadas cinco etapas de triagem: escolar, municipal, estadual, regional e, finalmente, a nacional.

Durante o ano, os professores das escolas participantes passaram por um processo intenso de formação. Para realizar as atividades em sala de aula, as escolas públicas de todo o país receberam a Coleção da Olimpíada, material de apoio no ensino da escrita de diferentes gêneros textuais, utilizado com os alunos no horário regular de aulas. A Olimpíada tem como tema O Lugar Onde Vivo, que proporciona aos estudantes uma reflexão sobre sua própria realidade.

Premiação: Os 20 vencedores nacionais, professores e alunos, receberão medalhas de ouro, um notebook e uma impressora. As escolas nas quais lecionam/estudam os selecionados também serão contempladas com laboratórios de informática, compostos por dez microcomputadores e uma impressora, além de um projetor multimídia, um telão para projeção e livros.


Confira o texto da estudante Dayane de Sousa Pereira Silva de Picuí (PB)

Memórias de uma maldita

Aluna: Dayane de Sousa Pereira Silva
Categoria: Memórias Literárias

Quando eu era criança, minha netinha, a vida era outra. Este lugar era muito diferente. Outra vida, outros costumes.
Ainda criança, ia poucas vezes à cidade. Naquele tempo, nós ficávamos em casa, esperando papai voltar da feira, trazendo um saquinho com umas dez balinhas de mel ou um pão-doce, cheio de coco em cima. Era a nossa festa semanal!
Eu morava num paraíso, chamado Sítio Mendes, onde a paz reinava e o sol brilhava alegre. Poluição e violência? Ali não havia... Ah! Como era bom brincar com meus cinco irmãos correndo no meio do roçado!
A gente brincava de roda, ciranda, bonecas de sabugo de milho, boi de osso...
Mas felicidade de verdade tivemos no dia em que papai, voltando da feira, nos trouxe uma bicicleta Monark, vermelha, herdada de minha tia. Mesmo sendo usada, mesmo sendo uma só para seis, foi a maior alegria! Ela precisava de alguns consertos. De tanto insistirmos, meu pai foi consertá-la e ainda a inauguramos naquela noite, contando apenas com o clarão da lua...
Nós éramos uma família grande, unida e muito feliz, pois tínhamos uma terra fértil cheia de frutas e verduras brotando por toda parte, água jorrando limpinha nos barreiros e o gado gordo nos currais. Só que essa grande felicidade acabou de repente. Tudo começou a mudar, aquele mundo verde começou a sumir, a água nos barreiros começou a faltar.

Nessa fase, uma grande seca assolava nosso município e passamos por muitas dificuldades. Quando papai e vovô chegavam com os pedaços de xiquexique, facheiro e macambira, era preciso assá-los para saciar a fome das poucas reses que ainda nos restavam. Dava até pena ver as bichinhas, olhinhos pidões, e depois observá-las mascando aquela comida improvisada, ainda quente. Tanto que escorregava um líquido viscoso de seus olhos, como se chorassem.
Que cena horrível comecei a presenciar, o gado magro morrendo! Tudo seco, sorriso no rosto não havia, pois a comida era tão pouca... Tivemos que nos unir para poder afastar os fantasmas daquela grande seca. Ainda assim, alguns moradores partiram para outras regiões do país em busca de uma vida melhor. Nossa! Tivemos que vender tudo, nossa casa, nosso chão, nossa bicicletinha!
Minha família decidiu permanecer ainda no local. Apenas nos mudamos para a zona urbana. Foi tão triste ver meus pais sofrendo e, no final, termos que sair de onde amávamos!
Viemos morar numa pequena casa de taipa – feita de barro, coberta de palha, e porta improvisada com pendões. A minha família permaneceu toda amontoada naquela casinha. Não tínhamos mais nossos brinquedos, nossa liberdade. Entretanto, ainda carregava na lembrança a imagem da nossa bicicleta, tão querida. Tivemos que deixá-la para trás, junto com todos os bons momentos que passamos lá no velho Sítio Mendes, celeiro de nossa infância.
E assim vivíamos na esperança de um dia a chuva voltar e, com ela, a nossa felicidade. Não voltamos mais a morar na zona rural. E, hoje, mesmo sem meus pais e meus irmãos, que foram cada um para um lado, só me resta contar aos meus netinhos, as histórias daquela maldita seca que levou minha felicidade e transformou nossa realidade.

(Texto baseado na entrevista feita com a senhora Maria Valdenora de Sousa, 63 anos.)

Fonte: Internet
 

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