sábado, 29 de novembro de 2014

Casa das Leis nunca foi e nem será casa de recurso



Como democrata contumaz, não posso deixar de observar, Data vênia aos ilustres parlamentares de comportamento estritamente Republicano, quem não tem familiaridade com a rotina do Congresso Nacional, ao sintonizar à rádio senado ou o canal de TV que cobrem aquela respeitabilíssima casa, vendo o atual comportamento desprezível de alguns dos seus membros, certamente, não vai ligar os fatos, ou imagens, daqueles políticos portadores de procurações dos eleitores brasileiros, alocados e para o exercício no Congresso Nacional, com prerrogativas dignas aos mais ilustres seres humanos, no sistema Democrático.

Muito embora, e em muitos momentos da nossa história, tivéssemos membros, tanto na Câmara Federal como no Senado, componentes de comportamento mais exaltados, principalmente no calor das discussões, chegando ao incidente mais grave do uso de arma de fogo, culminando com a morte do então suplente, em exercício, de José Guiomard dos Santos, senador pelo Acre, Kairala José Kairala (04/12/1963); por bala disparada pelo senador por Alagoas, Arnon Afonso de Farias Melo (pai do ex-presidente da República e atual senador por Alagoas, Fernando Affonso Collor de Mello), contra seu arquirrival, também senador por Alagoas, Silvestre Péricles de Góis Monteiro. Portanto, ocorrendo, nesse caso, a morte de um inocente vitimado pelas borrascas dos seus pares.

É de se lamentar, depois de um longo período vivendo na escuridão do regime de exceção (1964/1985), considerando apenas a recente história do Brasil, tenhamos que conviver com um governo que se afasta radicalmente da Democracia Plena, tentando impor sua ideologia no modelo, nefasto, truculento e bolivariano; onde prevalece a vontade de governistas, sem limites de ações, para se manterem no poder, desrespeitando, principalmente, a minoria opositora. A ira dos situacionistas do Executivo, leva ao Congresso Nacional sua infensa animalesca, descomposta de qualquer indumentária adequada às praticas de convívio nas Casas das Leis, representadas pela Câmara Federal e o Senado, compondo-se no secular Congresso Nacional, integrantes do sistema Bicameral.

A impressão que se tem é que alguns componentes da situação esdrúxula, aviltado por outros desinformados oposicionistas, simpatizantes do perjúrio, sem nenhum apreço pelo sistema, agindo de tal forma destoante daquilo que podemos considerar razoável ao bom entendimento entre os opositores políticos, não inimigos, aboletados no mesmo espaço físico, mesmo tendo posições contrárias, e deve tê-las, assim é que vive e convive os contrários numa democracia, usando-se anódinos, evitando-se os sardônicos desprezíveis, não querendo ser seráfico, mas, um comportamento compatível, e hodierno mais civilizado, é no mínimo fundamental para a boa convivência dos contrários.

 Para mudar os fundamentos da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), simplesmente para não ser atingido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o Executivo, tendo ultrapassado o limite do teto nas suas despesas, do corrente ano, 2014, não cumprindo a própria meta estabelecida por ele próprio, envia ao Congresso Nacional, o projeto de Lei 36/2014, embrulhado em pacote contendo vários vetos, forçando aprovação, num gesto humilhação para aquela casa, transformando num poder subserviente, impingindo uma condição desqualificadora, tentando até, na mais repugnante e remota possibilidade de transformar a Casa das Leis numa casa de recursos, na mais pejorativa qualificação que a nossa língua trata e qualifica os ambientes provedores da imoralidade humana; quando ele próprio, em nome dos projetos sociais e desonerações direcionadas a poucos setores produtivos da economia, especificamente montadoras e a indústria branca, numa tentativa de afrouxamento das regras da economia, tornando os agentes econômicos e o próprio governo numa referência sem nenhuma credibilidade no mercado, afugentando, dessa forma, o capital, já tão raro, para investimentos e tão necessário para a retomada da nossa economia.

Não bastasse o gesto inoportuno do Executivo, o Legislativo, se por acaso, vier a chancelar essa atitude de inversão da Lei, descumprindo-a depois da infração cometida, não só legitima um ato indecoro para o caso, como assume junto com o Executivo, a total falta de rumo da economia nacional, ficando impedido de exigir que os demais poderes executivos, tanto estaduais como municipais, cumpram a Lei de Responsabilidade Fiscal. O mais preocupante é o relatório para encaminhamento, apresentado pelo senador nascido em pernambucano, Homero Jucá (PMDB/RR), justificando o injustificável, podendo levar os congressistas ao erro histórico e desmedido, seus argumentos são fortes e competentes para a finalidade que se apresenta, mas, despido de qualquer fundo de legitimidade moral, por se tratar de um afronte às nossas Leis vigentes, um verdadeiro espanto para a Democracia moribunda de um Brasil entubado na sua dignidade, numa UTI de um hospital desumanizado e combalido.

Menoscabando o que já estava imperfeito, o presidente do Congresso Nacional, senador José Renan Vasconcelos Calheiros (PMDB/AL), tentou aprovar o PL 36/2014, de forma acintosa, passando por cima da própria Constituição Federal e o regimento interno do Congresso Nacional, não conseguindo por falta de quórum, por insistência e méritos da pequena oposição que se manteve altiva até o encerramento da sessão de terça-feira (25), já madrugada de quarta-feira (26). Na própria quarta-feira, tentando novamente aprovação da matéria em questão, o presidente do Congresso, tenta abrir os trabalhos e é contido aos gritos e brados dos opositores já em verdadeiro pânico, e total destempero do dirigente, mandando o deputado federal por Pernambuco e líder de seu partido na Câmara, José Mendonça Bezerra Filho (DEM/PE), calar a boca o que foi respondido no mesmo tom de voz pelo seu oponente, o que foi pior, da tribuna do Congresso, um verdadeiro vexame cívico, praticado pelas partes.

Foi transferido para terça-feira próxima (02/12), nova seção para o encerramento dessa contenda, sem nenhuma previsão de como decorrerá seu final, agora, junto como a oposição estão os descontentes da base aliada, pois, só não houve quórum para abertura dos trabalhos em 26/11, pela adesão de alguns membros, principalmente do PMDB, favorecendo ao cancelamento da reunião, deixando claro o peso político do líder do partido e candidato a presidência da Câmara, deputado Eduardo Cosentino da Cunha (PMDB/RJ). Entendemos até, se o líder Eduardo Cunha se manter sua candidatura e sendo eleito, por consequência, à presidência da Câmara Federal, mesmo sendo uma figura ligada ao PMDB, partido que é governo, a oposição e o povo brasileiro ganhará muito, pois, o político carioca faz uma gestão independente no Congresso Nacional, por conseguinte, trazendo sérios problemas ao jeito matreiro de condução das políticas aplicadas pelo partido governista.

A evidência que fica é que dependemos muito da atuação individual e patriótica de políticos que querem o cumprimento das leis sem subterfúgios, ou delongas corporativas, tornando o país respeitado e respeitável, longe da atuação e do papel que fazem os partidos sem nenhuma conotação ideológica, sem atuação para os interesses coletivos, fixando suas metas em benefícios do privilégio de poucos, num países de tantos miseráveis, escondidos propositadamente num verdadeiro estelionato eleitoral, ocorrido nas últimas eleições em nosso país. Isso é um fato!


Genival Torres Dantas
Escritor e Poeta

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